Friday, November 23, 2012

A vida podia ser sempre tão simples como a vejo neste momento. A versão de Apollinare Rossi da música 'I still haven't found what I'm looking for' a ecoar pela sala de estar. Um macarrão com carne picada, cogumelos e cenoura pronto a ir ao forno. Uma manta nas pernas, um marcador numa mão e uma desgravada na outra. Eu sentada no sofá, no fim de uma tarde de estudo produtiva, a acabar uma aula que até nem está a correr mal, enquanto espero que a companhia para o jantar chegue. Os amigos de sempre. Sim, a vida podia ser sempre assim simples. Isto também é felicidade.

Monday, November 19, 2012

Numa das últimas vezes que lá estive em casa pediu-me que fosse buscar uma fotografia que estava em cima do móvel.
- Sou eu e o teu Tio. Lembras-te dele?
- Tenho uma memória vaga de jogar com ele às damas, na sala grande de casa da minha avó.
- Sim, o teu Tio gostava de jogar às damas.
Depois calou-se e ficámos algum tempo assim, a olhar para o passado. Não tenho grandes recordações do meu tio, apenas esta recordação vaga de jogar às damas. Não me lembro da sua morte, não me lembro do seu funeral. Só das damas. Tenho mais recordações da minha Tia, com o seu ar imponente, sempre muito pintada, impecavelmente arranjada. Ainda hoje, quando penso nela é esta imagem que me surge, ela há uns dez ou doze anos, o cheiro da maquilhagem misturado com o do perfume (Channel número 5?).

Estive em sua casa pouco mais de meia dúzia de vezes nos últimos quatro anos. Da primeira vez disse 'Estás enorme!', tal e qual como manda a tradição. Não falávamos muito. Eu levava-lhe uma caixa de bombons ou duas dúzias de bolachas e ela perguntava-me por todas as pessoas da família, uma por uma, como que a mostrar-me que sabia os seus nomes, embora os trocasse de vez em quando. Por vezes trocava mesmo o meu, confundindo-me com a minha mãe. Às vezes eu corrigia-a, outra vezes não. Quando chegava a hora de eu ir embora, agradecia-me a visita e chorava. Eu agarrava-lhe a mão e dizia que sim, que mandava cumprimentos à família toda.

A Vida não foi fácil com ela. Levou-lhe o marido, levou-lhe o filho e depois levou-lhe a juventude, a beleza e a vaidade. Nas últimas vezes que lá estive em casa estava com o cabelo por pintar e um fato de treino que também servia, com certeza, de pijama. Estava sentada numa poltrona com a televisão à frente, o som muito alto, a imagem muito distorcida. Via uma novela qualquer, 'É aquilo que me vai mantendo ocupada.'. Depois, por motivo nenhum, pediu-me que quando lá voltasse levasse fotografias dos meus primos. Havia alguns que ainda não tinha conhecido, e gostava de os ver. Disse-lhe que sim. Foi há meio ano. Nunca lhas levei.

A vida passa assim, a correr. Deixamos o rame-rame do dia-a-dia tomar conta de nós e esquecemos estas pequenas promessas. Hoje a Vida deu descanso à minha Tia. Depois de ter levado o marido, o filho, a juventude, a beleza e a vaidade, levou-a a ela. Connosco fica a imagem de sempre.

Saturday, November 17, 2012

Em conversa com um amigo de (relativa) longa data, numa conversa que começou por ser sobre a relação estranhíssima de uma amiga comum, depois de eu ter informado que os namorados são sobrevalorizados:

-É bom ver que te manténs na mesma, que ainda não aderiste ao grupo das raparigas de vinte-e-poucos anos que 'Oh meu deus, oh meu deus, ou arranjo alguém rapidamente ou vou ficar sozinha para o resto da vida, a comer gelado da embalagem rodeada por uma dúzia de gatos!' e acabam com um tipo qualquer que, honestamente, a longo prazo me parece pior ideia do que o monte de gatos.

Dou uma gargalhada. Conheço o género. Conheço o género demasiado bem; arrisco dizer que eu própria fiz parte deste grupo quando, há uns meses, pedi à Jo para marcar um café com o namorado e um amigo dele. Felizmente nunca aconteceu, ele arranjou alguém entretanto e eu ganhei juízo.

- Sim, as minhas prioridades mantêm-se. Mas sabes, tenho uma vantagem grande: gosto de gelado e gosto de gatos. E prefiro acordar e estar sozinha do que acordar um dia com um imbecil ao meu lado pelo simples facto de ter estado desesperada o suficiente para ficar com ele só porque sim.

Riu-se.

-Se acordares um dia e estiveres sozinha, com uma embalagem grande de gelado, rodeada de gatos, liga-me. Se os meus filhos não forem asmáticos podes ficar com eles aos fins-de-semana.

Friday, November 16, 2012

Desvantagens de se estudar no iPad:
Se optas por leitores de .chm à borla tens constantemente publicidade a aparecer. Passado algum tempo uma pessoa habitua-se e já nem dá conta. A não ser que a publicidade seja à nova app para o iPad do jogo em que ficaste viciada no facebook e te levou a deixar de usar o pc e passar a usar só o iPad. Nesse caso és capaz de dar conta.

(E fazer o download da app. E passar o jogo até ao nível trinta e tal em vez de estudar tumores hepáticos. É capaz de acontecer isso, é.)


Wednesday, November 14, 2012

Por alguma razão que não percebo, não me apetece fazer nada. Não consigo organizar o estudo, não consigo estudar, não consigo fazer nada de produtivo. Este fim-de-semana vou a casa só para ver se isto melhora. Acho que cheguei à fase de estar saturada do curso. Quero começar a fazer alguma coisa de jeito. Estou farta de ler desgravadas sem nexo nenhum, estou farta de brincar às urgências e às enfermarias e aos blocos, de fingir que estou a ser útil quando na realidade estou só a segurar paredes e a andar de um lado para o outro atrás de médicos que fingem que nos ensinam. (Digam lá se não estou com um humor fantástico?)

Sunday, November 11, 2012

Deixei o coração na UCIN. Deixei o coração e trouxe a nuvem cinzenta, da qual me tento livrar agora, deitada no sofá com uma manta a olhar para a televisão, depois de um jantar de 'confort food'. Dói-me a cabeça.

Saturday, November 10, 2012

'-Quando alguém te diz para não contares alguma coisa, isso inclui-me?
-A ti não, toda a gente sabe isso...
-Óptimo, então vou-te contar uma coisa que me anda a dar cabo da cabeça há duas semanas.

(...)

-Obrigadinha, sim? Agora vou ficar a duvidar de mim mesma durante imenso tempo e desmotivar!
-Olha, eu sinto-me muito melhor!'


Amizade é dividir o peso das coisas más por dois.

Thursday, November 8, 2012

As maravilhas do facebook

Na minha faculdade temos a sorte de poder fazer alguns estágios do sexto ano fora de Lisboa. Há uma lista razoável de hospitais com protocolo com a faculdade, alguns dos quais que me davam algum jeito. Por isso, aconselhada por uma interna com quem estive na urgência há pouco tempo, resolvi mandar uma mensagem via facebook a alguns internos que estão agora nesses hospitais. Acedi à lista das colocações no ano comum (obrigada, Jo, por me teres ensinado há tanto tempo a cuscar a vida dos outros), procurei o nome dos internos que estão nesses hospitais, escolhi meia dúzia deles e toca a mandar mensagem. Não estava com grande esperança, a sério que não. Mas eis que, não mais de 3 minutos depois, recebo a resposta de uma rapariga. Uma resposta simpática, simpática, com todas as informações possíveis e imaginárias, conselhos sobre que estágios fazer em Aveiro e quais fazer em Viseu, médicos fantásticos num sítio e no outro e disponibilidade para responder a qualquer dúvida que tenha. Venham lá agora dizer-me que o facebook não serve para nada!

Tuesday, November 6, 2012

Se por acaso estiverem a ter um dia mau (ou uma sequência jeitosa de dias francamente maus), passem pelo thenicestplaceontheinter.net - quase tão bom como uma canja de galinha quentinha comida à lareira.

Saturday, November 3, 2012

'I am tired.
I am tired.
I am tired.
I tried.

I cannot fix this.'